domingo, 20 de abril de 2008

CHEGA DE HIPOCRISIA – OLHEM PARA O RIO NABÃO


Tantas e tantas vezes tenho chamado a atenção para o nosso Rio.
Para o defender fá-lo-ei outras tantas se necessário.
Esta semana que passou novo atentado. Em Tomar as águas corriam num tom normal, esverdeado, sinónimo de que a poluição não se detectava a olho nu.
Descendo e no lugar de Matrena, tudo negro, porco, imundo.
Onde andam as autoridades competentes de fiscalização destes repetidos atentados ambientais.
Onde?
Onde andam os responsáveis da Câmara Municipal que tem que ter também a noção de fiscalizador e defensora do meio ambiente?
Onde andam os deputados eleitos por todos os partidos e que só se preocupam com outros rios e não com o nosso?
Onde anda a população que deveria juntar-se e apelar em local próprio o acabar desta situação e obrigar a que os poluidores do Rio, não repetissem os atentados e pagassem por isso, nem que a multa fosse repor o Rio Nabão sem a poluição costumada?
Onde anda o Ministério do Ambiente, os seus responsáveis?

Acabem com esta vergonha.
O Rio ou o canal de esgotos chamado Nabão, tratado assim é uma afronta aos nossos antepassados e um mau exemplo para os nossos descendentes, se ainda houver nessa altura RIO NABÃO.

Para terminar, gostaram da semana gastronómica da Lampreia?
Acreditem que todas as entidades que atras referi e responsáveis pelo Rio, muitas disseram que a lampreia estava muito boa.
Pudera não era do Rio Nabão, mas também não se importaram com isso e muito menos se importam com o nosso RIO.

Acabem com esta vergonha, ou mudem o nome do Rio Nabão, para RIO NEGRO.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

QUEREM FECHAR A ESCOLA DO TONITO

Tonito entrou em casa num pranto desalmado, onde se misturava nas lágrimas, baba e ranho, num choro desenfreado.
Sua mãe protectora natural do seu filho, não lhe conseguia arrancar qualquer palavra e a razão de tal pranto.
Angustiada e temendo o pior, com a natureza normal das mães e o seu poder maternal, lá conseguiu entre choros e soluços arrancar ao Tonito a razão de tal choradeira:
Mãe vai fechar a escola na aldeia.
No princípio pensando tratar-se de qualquer mal entendido da parte do filho, lá conseguiu em conversa atropelada com o mesmo arrancar a razão de todo este drama:
Tonito contou-lhe que a sua professora tinha referido na aula, que a Câmara Municipal tinha em projecto fechar a escola na aldeia.
Os alunos e eram mais de 20 iriam para a cidade ter aulas. Por causa de um projecto que estava em votação - qualquer coisa chamada de Carta Educativa.
Segundo a professora lhes tinha dito esta mudança era para que os alunos aprendessem melhor e não havia razão para a Escola da aldeia continuar aberta, pois na Cidade é que se podia aprender. Os professores eram melhores, havia computadores e embora a aldeia ficasse a alguns km a escola da aldeia tinha mesmo que fechar.
Leontina, mãe de Tonito nem queria acreditar. Fechar a escola onde tinha aprendido a juntar as primeiras letras, onde tinha estudado a sua mãe e todos os seus parentes.
Não era possível. Como podiam fechar a escola sem perguntarem nada aos habitantes da aldeia e o próprio Presidente da Junta o Sr. Manuel da Horta, nada tinha dito ou não sabia.
Decidiu tirar a verdade a limpo e combinando com a sua comadre Alzira, que também lhe confirmou o relato do seu filho, foi falar com o Presidente da Junta, que triste lhes confirmou a má noticia. Ele bem tentou, aliás era do Partido da Câmara, mas parecia que não ligavam aos seus protestos, nem mesmo com documentos que provavam que a escola deveria continuar aberta, por mais 50 anos ele conseguia convencer os Sr.s da Câmara.
Por mais razões que invocasse parecia que as suas palavras caíam em saco roto.
Tonito no entanto é que não estava pelos ajustes. Quando já tinham começado a organizar uma equipa de futebol, ele e os colegas, com suplentes que davam para duas equipas. Agora queriam fechar a Escola.
Ele que até com o computador do pai, já tinha começado a enviar emails pedindo apoios para as camisolas e as chuteiras, e combinado já mais de 10 jogos com os outros miúdos das escolas em redor na Freguesia, queriam acabar com esse sonho. Não podia ser.
No entanto mal sabia o Tonito e os colegas que tudo se preparava para fechar a sua Escola.
Os Sr.s que mandavam na Câmara Municipal lá tinham um estudo feito por uns Dr.s de Lisboa que indicavam que a Escola do Tonito devia fechar e outras tantas nas Freguesias do Concelho.
Tinham feito estudos, embora se percebesse que todos eles foram feitos a partir de Lisboa, mas isso não interessava. O estudo estava feito e nada a fazer, por muitos Presidentes de Junta que reclamassem, por muitos Tonitos que chorassem o fecho das Escolas.
O que contava era a cidade e algumas Freguesias o resto não tinha interesse.
Depois de aprovado o documento logo se via, referia o Presidente da Junta em conversa com a mãe do Tonito e contando a ela e a quantos se juntaram em redor, o que se tinha passado nas Assembleias Municipais e nas poucas reuniões onde lhe tinha sido convocado. O que é que eu posso fazer, lamentava-se o Manuel da Horta, os Sr.s da Câmara é que mandam.
Estava mais que visto, Tonito tinha razão. Iam fechar a escola na aldeia e para estudar tinha que ir para a cidade.
O pior de tudo era perder o convívio com os colegas e acabarem com a Equipa de futebol.
Logo agora que vinham mais uns amigos da sua idade viver para a aldeia.
Tonito tinha razão os senhores da Câmara não estavam preocupados minimamente com a Equipa de Futebol e nem se importavam que agora tinha que se levantar mais cedo.
Pois para ir para a outra escola tinha que se levantar por volta das seis da manhã todos os dias, dizia-lhe a mãe e se fecharem a escola não sabe como vai ser. Se ao menos perguntassem a opinião a si e aos seus colegas pensava Tonito, cabisbaixo enquanto ouvia o Presidente da Junta tentar explicar.
Se me deixassem falar eu lhes diria, pensava Tonito. Logo agora que tinha já jogadores para duas equipas de futebol e todos da aldeia.

Será que a Escola do Tonito vai fechar?

Leia os próximos capítulos, se os houver.

AVENTURAS E DESVENTURAS DO CIDADÃO AMBRÓSIO NA CÂMARA MUNICIPAL

Ambrósio, cidadão Tomarense emigrou cedo para a Suiça.
Levava com ele um sonho. Depois de inúmeras canseiras, de trabalho noite e dia naquele Pais, amealhou uma quantia considerável com a qual pretendia investir na sua terra natal – Tomar.
Mas falemos um pouco do Ambrósio. Nasceu neste pequeno pedaço de terra fecundada há milhares de anos pelo seu querido Rio Nabão.
Quando por razões de ordem material teve que deixar muito a custo os seus amigos, a sua família, a terra que o viu nascer, partiu esperançado que quando voltasse pudesse realizar o seu sonho.
Investir e viver no seu Concelho – Tomar.
Assim com um enorme peso no seu coração de Tomarense, partiu deixando tudo o que lhe era querido e onde em cada pedra, cada monumento, cada árvore lhe lembrava os seus antepassados.
A emigração doeu-lhe, mas prometeu a si mesmo conseguir criar alguma riqueza.
Nesta terra que não lhe dava agora nada, acreditava que no futuro quando voltasse continuaria a ser sua e melhor.
Mil tormentos passou, a dificuldade de entender, a saudade dos seus, mas manteve sempre presente o seu sonho e a lembrança diária da sua terra natal. Foram estas as vitaminas fundamentais, mais que o alimento que levava à boca, que o ajudaram a vencer no dia a dia.
Conseguiu assim juntar algum dinheiro nos dez anos que labutou em terra distante.
Quando decidiu regressar, arrumou a mala, deu a notícia à mulher e filhos e voltou no coração com a esperança que o tinha mantido tão longe do vale verdejante do Nabão.
Iria montar o seu próprio negócio, ser senhor de si mesmo. Tinha valido a pena, pensava.
Ainda não tinha desfeito praticamente as malas e lá vai Ambrósio, com a ajuda do seu compadre que por sinal era secretário da Junta, lugar importante, falar na Câmara Municipal de Tomar.
Agora é que vai, que se dane a Suiça, vou montar o meu negócio, comprar um terreno na Zona Industrial, pensava enquanto percorriam a distância curta que o separa da Sede do Concelho.
A Câmara agora que tenho o dinheiro para o terreno, para levantar o armazém e adquirir a maquinaria, vai ajudar. Tem-me dito que Tomar está a precisar de gente que ajude o Concelho e para isso tem já um aqui, referia ao seu compadre enquanto subia a escadaria do Município.

Mal sabia Ambrósio que tinha começado o calvário da sua vida, muito pior do que tinha passado anteriormente.
Na Câmara Municipal não o receberam, marcaram uma série de entrevistas que cada vez que lá voltava ainda vinha sem saber menos.
Informaram-no, um Dr. Qualquer coisa, o seu compadre tinha referido o nome mas ele nem o memorizou, que havia terreno, mas o processo iria demorar algum tempo, dois anos no mínimo.
Tentou por diversas vezes um Gabinete de Apoio aos Cidadãos, como havia na Suiça, mas afinal o que lhe aconteceu foi ser enviado de funcionário em funcionário e nada feito.
Tentou falar com um dos Vereadores e o próprio Presidente que conhecia de vista, quando houve a festa na aldeia e que calhou em tempos de eleições, mas nada feito.
Ambrósio andou nisto tempos sem fim, mas sempre com a força do seu sonho – Investir e ter sucesso no seu Concelho natal. Tinha que ser aqui, referia a si mesmo, com a teimosia que já lhe era conhecida.
Ambrósio tentou, tentou e quando quase em desespero, vendo fugir o tempo para começar o que tinha planeado, alguém num dos jantares em casa do seu compadre lhe referiu que tentasse um dos Concelhos vizinhos.



Assim a custo e não querendo voltar novamente para a Suiça, donde tinha voltado com tanta esperança, acabou por apresentar o seu projecto, nestas Câmaras.
Deu resultado e finalmente conseguiu falar com alguém nos tais Gabinetes de Apoio, que aquelas Câmaras possuíam que lhe ajudaram a tratar de toda a papelada e aconselharam em muitos outros assuntos.
A dificuldade estava em escolher o Concelho, mas finalmente decidiu-se por aquele que estava mais perto de Tomar.

Hoje, Ambrósio tem finalmente o seu negócio em marcha, emprega já dez pessoas que recrutou na sua aldeia, mas a mágoa agora mais surda continua a não ter conseguido montar o seu projecto no Concelho de Tomar. Recorda com tristeza todo o tempo perdido, os contactos estéreis que manteve e de nenhuma resposta da sua Câmara – a de Tomar.

Está a começar a construir a sua vivenda perto da Fábrica noutro Concelho e os filhos já não estudam em Tomar.
Não viver agora no seu Concelho foi uma opção de vida, não teve culpa.
Os Senhores da Câmara não o ajudaram e afinal o seu compadre, secretário da Junta, também não tem grande influência, embora digam o contrário os senhores do seu partido quando vão à aldeia em tempo de eleições.

Quantos Ambrósios não haverá?

FELISMINA – A ULTIMA LAMPREIA DO RIO NABÃO

Morreu na semana passada a ultima das lampreias do nosso Rio Nabão.
Felismina, nome dado pela sua mãe que depois de duras canseiras, mas com a intuição de séculos próprios da sua espécie, veio deposita-la em ovo num pequeno buraco, em zona pedregosa do rio que percorre no nosso Concelho.
Ali se transformou em larva e depois de inúmeras canseiras em jovem fêmea.
Conhecia bem o seu rio e conseguiu sobreviver a toda a praga de infortúnios. Conhecia bem quando se avizinhava mais uma descarga poluente, quando a água começa a tornar-se mais turva, fruto da incúria e maldade dos homens. Mas foi sobrevivendo.
No seu intimo já lhe começava a despertar a vontade da espécie do regresso ao mar, onde a sua progenitora tinha vindo.
As suas irmãs foram morrendo e arrastadas tantas vezes pelas correntes sujas e lamacentas, mas e Felismina conseguiu sobreviver.
Contava os dias em que podia voltar ao mar e regressar novamente para depositar os seus ovos, mantendo assim o ciclo já interminável de gerações de lampreias que tomaram como sua casa o Rio Nabão.
Mas tal não aconteceu.
E ao raiar de um dia que se avizinhava radioso e resplandecente, quando o amigo Sol já começava a espreitar por detrás do grande edifício que é a Matrena, Felismina não aguentou novo atentado ao seu habitat natural e quando o rio transportou o veneno mortal, já era tarde. Felismina agitou-se tentou afastar-se daquele veneno escuro, mortal, ainda com as suas ultimas forças tentou debater-se e procurar uma pequena veia ou regato de água mais clara, mas em vão.
As forças foram abandonando-o e acabou.
Morreu ali a ultima lampreia do Nabão. A Felismina.

Os seus últimos pensamentos ainda foram para as suas irmãs, que em anos anteriores tinham contribuído para dar nome ao Rio, ao Concelho que escolheram para viver e desovar.
Ainda se lembrou de tantas e tantas irmãs que acabavam por ser pescadas e servidas nos pratos em Tomar.
Ainda se lembrou de outras que partindo mais cedo, se fizeram ao caminho e conseguiram chegar ao mar, para eventualmente depois regressar, mas ela não.

A sua sorte estava ditada e em plena agonia acabou com um último pensamento o mais triste e irónico que a sua espécie poderia ter. As suas irmãs que partiram nunca mais voltariam ao rio que as viu nascer e onde eram tão apreciadas, porque o veneno que corria no seu Rio Nabão o tinha contaminado por completo e talvez nunca mais ali houvesse vida, nem lampreias.

Morreu assim a ultima lampreia do Rio Nabão. A Felismina.
No entanto ficou-lhe o consolo que ainda se podia apreciar a sua espécie, pois sabia que a alguns homens não lhes interessava donde vinham as suas irmãs, fosse de França em cativeiro, ou de outro rio mais bem cuidado que o seu sempre e querido Rio Nabão.