Ambrósio, cidadão Tomarense emigrou cedo para a Suiça.
Levava com ele um sonho. Depois de inúmeras canseiras, de trabalho noite e dia naquele Pais, amealhou uma quantia considerável com a qual pretendia investir na sua terra natal – Tomar.
Mas falemos um pouco do Ambrósio. Nasceu neste pequeno pedaço de terra fecundada há milhares de anos pelo seu querido Rio Nabão.
Quando por razões de ordem material teve que deixar muito a custo os seus amigos, a sua família, a terra que o viu nascer, partiu esperançado que quando voltasse pudesse realizar o seu sonho.
Investir e viver no seu Concelho – Tomar.
Assim com um enorme peso no seu coração de Tomarense, partiu deixando tudo o que lhe era querido e onde em cada pedra, cada monumento, cada árvore lhe lembrava os seus antepassados.
A emigração doeu-lhe, mas prometeu a si mesmo conseguir criar alguma riqueza.
Nesta terra que não lhe dava agora nada, acreditava que no futuro quando voltasse continuaria a ser sua e melhor.
Mil tormentos passou, a dificuldade de entender, a saudade dos seus, mas manteve sempre presente o seu sonho e a lembrança diária da sua terra natal. Foram estas as vitaminas fundamentais, mais que o alimento que levava à boca, que o ajudaram a vencer no dia a dia.
Conseguiu assim juntar algum dinheiro nos dez anos que labutou em terra distante.
Quando decidiu regressar, arrumou a mala, deu a notícia à mulher e filhos e voltou no coração com a esperança que o tinha mantido tão longe do vale verdejante do Nabão.
Iria montar o seu próprio negócio, ser senhor de si mesmo. Tinha valido a pena, pensava.
Ainda não tinha desfeito praticamente as malas e lá vai Ambrósio, com a ajuda do seu compadre que por sinal era secretário da Junta, lugar importante, falar na Câmara Municipal de Tomar.
Agora é que vai, que se dane a Suiça, vou montar o meu negócio, comprar um terreno na Zona Industrial, pensava enquanto percorriam a distância curta que o separa da Sede do Concelho.
A Câmara agora que tenho o dinheiro para o terreno, para levantar o armazém e adquirir a maquinaria, vai ajudar. Tem-me dito que Tomar está a precisar de gente que ajude o Concelho e para isso tem já um aqui, referia ao seu compadre enquanto subia a escadaria do Município.
Mal sabia Ambrósio que tinha começado o calvário da sua vida, muito pior do que tinha passado anteriormente.
Na Câmara Municipal não o receberam, marcaram uma série de entrevistas que cada vez que lá voltava ainda vinha sem saber menos.
Informaram-no, um Dr. Qualquer coisa, o seu compadre tinha referido o nome mas ele nem o memorizou, que havia terreno, mas o processo iria demorar algum tempo, dois anos no mínimo.
Tentou por diversas vezes um Gabinete de Apoio aos Cidadãos, como havia na Suiça, mas afinal o que lhe aconteceu foi ser enviado de funcionário em funcionário e nada feito.
Tentou falar com um dos Vereadores e o próprio Presidente que conhecia de vista, quando houve a festa na aldeia e que calhou em tempos de eleições, mas nada feito.
Ambrósio andou nisto tempos sem fim, mas sempre com a força do seu sonho – Investir e ter sucesso no seu Concelho natal. Tinha que ser aqui, referia a si mesmo, com a teimosia que já lhe era conhecida.
Ambrósio tentou, tentou e quando quase em desespero, vendo fugir o tempo para começar o que tinha planeado, alguém num dos jantares em casa do seu compadre lhe referiu que tentasse um dos Concelhos vizinhos.
Assim a custo e não querendo voltar novamente para a Suiça, donde tinha voltado com tanta esperança, acabou por apresentar o seu projecto, nestas Câmaras.
Deu resultado e finalmente conseguiu falar com alguém nos tais Gabinetes de Apoio, que aquelas Câmaras possuíam que lhe ajudaram a tratar de toda a papelada e aconselharam em muitos outros assuntos.
A dificuldade estava em escolher o Concelho, mas finalmente decidiu-se por aquele que estava mais perto de Tomar.
Hoje, Ambrósio tem finalmente o seu negócio em marcha, emprega já dez pessoas que recrutou na sua aldeia, mas a mágoa agora mais surda continua a não ter conseguido montar o seu projecto no Concelho de Tomar. Recorda com tristeza todo o tempo perdido, os contactos estéreis que manteve e de nenhuma resposta da sua Câmara – a de Tomar.
Está a começar a construir a sua vivenda perto da Fábrica noutro Concelho e os filhos já não estudam em Tomar.
Não viver agora no seu Concelho foi uma opção de vida, não teve culpa.
Os Senhores da Câmara não o ajudaram e afinal o seu compadre, secretário da Junta, também não tem grande influência, embora digam o contrário os senhores do seu partido quando vão à aldeia em tempo de eleições.
Quantos Ambrósios não haverá?
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